quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dia 20: as costas da Itália

Vigésimo dia na Itália (06/03). Dia longo. Estou com saudades da Bruna (digam isso para ela). Não me lembro se já falei para vocês sobre o conceito de saudade específica. Desenvolvi este conceito quando morava em Curitiba, ainda na casa dos Coppi. É quando, apesar de estar longe de um monte de gente querida, do nada bate uma saudade danada de uma pessoa específica. Já tive isso na viagem com a tia Fátima. De repente, bateu uma saudade louca dela. Ontem foi da Bruna, mia fratella carina. Por isso sonhei com ela: a Bruna era uma lutadora meio ninja e estava sendo desafiada por um japonês. Eram quatro irmãos japoneses contra nós três (Bruna, Paulinho e eu). Aí a Bruna foi lutar contra o menor deles e eu fiquei preocupado que ele batesse nela. Aí, ele deu três golpes e ela desviou dos três e deu uma só. Um porrada no pescoço do japa, que jogou ele longe. Aí os irmãos foram embora, eles estavam na parte debaixo da escada e nós em cima e eu disse: "amanhã é a nossa vez" (se referindo ao Paulinho e eu) e fizemos uma pose de lutadores, os três irmãos. Hilário.


O dia era da belíssima Sorrento. Positano e Amalfi também

Foi com esse sonho na cabeça que acordei para tomar café. De novo eu era o primeiro. Tomei um café mais demorado e subi ajustar minhas coisas. Deixei o tênis no Sol e peguei o pior tênis de todos, um de salão que trouxe para jogar bola com os milaneses e que nem teve jogo. Ele me dói os pés, é apertado, pequeno. Não laceia nunca. Enfim, peguei o metrô pá, conexão pá, trem pá. Uma hora para chega a Sorrento, já estava cansado. Mas cheguei.



Fúlvio, Laura e a cadelinha Stella (Il tuo biglietto per il paradiso)

Havia escrito para uma amiga CouchSurfing para tomarmos alguma coisa em Sorrento. A Laura e o namorado Fúlvio estavam me esperando na estação. Gente boníssima, me levaram para ver a melhor paisagem da cidade, o Mar Tirreno azulíssimo, o Vesúvio ao fundo e Napoli pequenina. Lindo. Tomamos um caffé (misturado com Nutella) e um doce de limão local. A cidade é famosa por seus limões, azeite de oliva e caixinhas de madeira. Há várias lojas vendendo produtos à base de limão e as ruas da cidade são repletas de limoeiros e laranjeiras. Peculiar.


Sorrento, famosíssima por seus limões. Eu comprei uma pinga para o pai e quebrei a garrafa

A cidade vive do turismo. Tem 10 mil habitantes. No verão chega a 110 mil pessoas. Ela é, assim como o Sul da Itália, espanhola. O Fúlvio disse que o Norte da Itália é alemão e o Sul espanhol. Por isso as coisas funcionam lá e não aqui. Por isso no Norte trabalham direto e jantam cedo e, no Sul, tem a famosa ciesta depois do almoço e eles jantam a noite, as dez, como os espanhóis.


O azulíssimo Mar Tirreno e o imponente Vesúvio

Fúlvio disse mais. Apontou para o Vesúvio e contou que no passado o vulcão era o dobro do tamanho. A erupção fez ele perder grande parte do que era. Sobrou para Pompéia que ficou soterrada, não pela lava, mas pela montanha. O lugar onde estávamos, disse, é fruto de erupções vulcânicas ainda mais antigas. De fato, a península de Sorrento tem rocha e areia negras.


Arqueologia de Sorrento. Se começar a mexer, a cidade inteira é tombada

Andamos mais pela cidade sempre com a cachorra Stella à tiracolo. Sorrento foi construída sobre templos gregos. Se começam mexer, tombam a cidade toda e aquele belo lugar vira sítio arqueológico. Melhor não. Mas então, dia de ônibus, fui pegar um para fazer a Costa Amalfitana, as cidadezinhas que fazem esta costa para o  Mar Tireno.


Passagem de Amalfi fechada. Mudanças de planos e carona

A passagem para Amalfi estava fechada. Catzo. Esperei o ônibus para Positano e fui embora. A vista pela janela é de tirar o fôlego. Cidades inteira na encosta estreita, nas rochas. E o mar azul, azulíssimo. É interessante como um momento bucólico pode virar terror quando uma criança começa a entoar o cântico preferido: chorar. Mas não é choro por razão. "Ai, estou doente", "Ai, perdi um ente querido", "Ai, perdi um dedo". Não, é choro por choro. O ato pelo ato, tal como os parnasianos, a arte pela arte. O choro pelo choro. E um ônibus todo irritado com aquele barulho.


Em Positano, molecada jogando bola em área proibida. #vemprarua

Baixei em Positano com os ouvidos assoviando. O pai teria um piti, certeza. Desci as ingrimes ladeiras até pisar na praia. Nada de areia, pedras redondas, mas muito bonito. Aí sim curti um momento sozinho gostoso, molhar os pés (quando voltar para Foz deixo eles uma semana na salmora), brincar com as pedrinhas. Agradável. Ver os pais de família e seus filhos jogando pedrinhas. Eu deitado, relaxado entre as pedrinhas límpidas. Aí vi um cão fazendo xixi não tão longe e tive nojo. Catei minhas coisas e fui andar.



Cascalho, seixos, pedregulhos. Tudo menos areia. Pais, filhos e cães

Vi gatos, seres impossíveis de serem fotografados (ou fogem da máquina, ou vem para cima dela para ronronar e chafurdar). Andei mais um pouco até uma praia escondida. Linda. E fui embora. Comprei um pão, subi ladeiras comendo seco. E peguei uma carona para Amalfi - eu que não iria chegar até ali sem conhecer mais uma das quatro Repúblicas Marinaras (ficou me faltando Gênova). A estrada estava fechada para ônibus, não para carros.


Gatos, estes seres (quase) impossíveis de se fotografar.

Os caras do carro, um italiano chamado Emílio e outro romeno de nome que ignoro, trabalham com pavimentação. O carro cheira a produto químico forte, talvez cola, mas eles não estão nem aí. Acostumados, devem ficar grogues o dia todo. Mas gentes boas. Fui vendo a costa e as paisagens pelo carro e ele me explicando. Cheguei a Amalfi, agradeci aos dois e fui andar um pouco. Até perto da água e, antes de ir ao centro, tive a curiosidade de perguntar qual o último ônibus para Sorrento (a estrada estava novamente aberta para ônibus). "É este", disse o motorista. Não deu tempo para nada, olhei Amalfi rapidão e peguei o ônibus de volta.


Em Amalfi, olhada rápida, posar para foto e v´mbora

Fiquei quase duas horas no ônibus. Nada de glamour, nada de luxo, um congestionamento infinito nos segurava a poucos quilômetros de Sorrento. Tem muito carro na Itália, a esta hora ouço buzinas ainda (por que o pessoal não fica em casa, pai?). Pedi para descer, preferiria andar dois quilômetros a pé a ficar naquele trânsito. O impaciente.


Vendedor de redes e seu bichano

Cheguei a Sorrento e o simpático Fúlvio me convidou para ver Roma e Milan na TV, com uns amigos dele e com pizza. Ótimo. Fiquei batendo papo e comendo uma ótima pizza, no intervalo vi que dava tempo de correr e pegar o rem das 21h37. Corri, mas, burro, tinha esquecido uma sacola e tive que voltar. Não daria tempo, mas corri. Cheguei bufando na bilheteria para comprar o ticket, o trem tinha acabado de sair. Esperei, esperei, esperei até o trem das 22h25. Passei mais de uma hora tentando dormir, cansado e mal humorado no trem (do especial: “como um passeio bacana se transforma num saco”). E cheguei a stazione centrale.


Fim do dia dentro do ônibus. Roma e Milan me esperavam

Tudo o que eu queria era chegar ao hostel. Corri para o metrô, mas, tchan-tchan-tchan: não havia mais metrô. Catei o mapa, sempre no bolso traseiro direito, e fiz a pé o percurso. Andei por uns lugares meio estranho, nada de mais, mas Napoli é conhecida por sua máfia e pela violência. Ruas sombrias, intermináveis. E eu pensando que a qualquer momento alguém ia pular armado na minha frente. Enfim, cheguei vivo no hostel.

Um banho, massagens nos pés e descanso. Amanhã eu iria para Pompéia , mas que nada, vou ficar por aqui. Descanso no hostel, conheço alguma coisa de Napoli, sem compromisso, para pegar o navio para Palermo. Será uma loooonga noite. Talvez sonhe com o Paulinho, a Bruna e eu dando um pau nos japoneses.

Ou nos napolitanos.

Beijos a todos (bem-vinda Bruna), maus pelo grande email, mas sabe duma coisa? Isso relaaaacha a gente, hehhhe.

Murilo

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