terça-feira, 9 de julho de 2013

Dia 19: Vesúvio e eu

Dia curto. Dia longo.

Décimo nono dia na Itália (05/03). Dia curto. Estou cansado de caminhar. Os pés, os tornozelos dóem de verdade. Vou dar um descanso para eles. Mas o décimo nono dia começou com um café da manhã. Foi um dia meio deprê. Quando cheguei ao hostel achei que ia entrar naquele clima de hostel. Adoro este clima. Conhecer pessoas diferentes, de outros países, outras culturas. Mas ou eu esteja pouco receptivo ou esteja com má sorte. Na festa, no noite em que cheguei, fiquei mais perdido que pinto em galinheiro errado (gostaram? acabei de inventar). Fui dormir para acordar cedo.

Café, estava falando sobre isso. Fui o primeiro a tomar café, fiquei ali, chegou um grupo de franceses que sentaram ao lado. Fiz minha torrada, meu cereal, meu café aguado. Aí chegou um cara puxando papo em inglês, pedindo se podia sentar à mesma mesa. Eu falei que estava de saída. É, eu não estou sendo receptivo.
 

O chovisco e o cartaz mostram a sina de quem viaja sozinho

Bem, o dia era de Vesúvio. Arrumei minhas trouxas e fui pegar a Circumvesuviana, a linha de trem que circunda todo o Vesúvio. Parei na cidade de Erculano, no trem, sempre buscando alguém para conversar. Nada. Peguei o tour, uma família, uma mulher e um china. Fiz a subida toda sozinho, olhei lá dentro na cratera. Foi interessante ver um vulcão que eu sempre quis conhecer. Mas sozinho?

Dia de neblina na subida do Vesúvio

Nunca tive problemas em fazer as coisas sozinho. Na verdade me dou bem comigo mesmo. Se fico muito tempo com outra pessoa, a não ser que ela seja como eu (o Marcão, da viagem pela América Latina, por exemplo, ou o Juttel da outra vez que vim pra Europa), perco a paciência. Gosto de tomar as decisões por mim mesmo. Quero ir pra cá agora? Vou pra cá agora. Não está no roteiro? Dane-se.


A cratera do Vesúvio. E eu sozinho

Mas tanto tempo viajando sozinho perdeu um pouco de seu glamour. É chato estar do alto de um vulcão histórico, que soterrou cidades inteiras, sentir a emoção de ver os gases saindo, a cratera e tals. E não comentar com ninguém. Resumo da Ópera: tem horas que viajar sozinho é um saco. Tem horas que não. Fico falando sozinho, curtindo meu momento, minhas piras. Fazendo minha viagem. Mas em outras, faz falta alguém para papear.


Por isso que, ao chegar ao sítio arqueológico de Erculano, Patrimônio da Humanidade, não tive a menor vontade de descer para conhecer. Teria que pagar, pegar um audioguia, andar um monte. Para mim, bastam o Foro Romano e o Palatino. Vi o sítio arqueológico por cima e tchau e benção.


Grande Cão de Napoli, história criada pela mente de quem está há muito tempo sozinho

Voltei meio deprê para Napoli, mas pá, me animei de novo. Peguei o metrô para chegar ao porto. Perguntei e me falaram que é longe, uns três quilômetros. E lá isso é longe pra mim. Andei. Andei, andei e andei. Desviei de cocos de cachorros e de lixos na rua. É uma tradição local. Ouvi a sinfonia de buzinas que não acaba nunca nesta cidade. Encontrei o Grande Cão de Napoli [piada interna]. Contei os barquinhos mil, que entopem a vista do mar. E continuei caminhando. Até que resolvi perguntar de novo. O porto era do outro lado. Os tais três quilômetros tinham virado nove.




Pois bem, voltei. Andei tudo de novo, vi um senhor estranho catando água do mar e me vi, velho e louco, com minha coleção de águas. Alguns caras me pedirarm trocados, outra tradição local. E começou a chover, pasmem, outra tradição. A sombrinha comprada em Verona, providencial, não impediu que eu ensopasse meu tênis e a barra da calça. Mas cheguei ao porto. E comprei o bilhete para Palermo. Teria, no outro dia, uma noite toda viajando de barco, nada de luxo, nada de glamour, nada de romantismo. Um banco, ruim como os de trem, para passar a noite e chegar moída em Palermo. Ao menos custou relativamente barato.




Para voltar para casa, busquei o mapa, sempre no bolso traseiro esquerdo (minha regra 1 de viagem, aliás, a única regra). Bati umas coordenadas, perguntei aqui e ali, comprei uma Fanta, enfrentei a frenética Via Toledo com suas lojas de roupas baratas (só não compro pq se coloco mais uma pena na mochila, fico na Europa). E peguei o metrô de novo. Aqueles mil lances de escadas rolantes e estava no hostel. Festinha de aniversário, eu cansado. Tomei um banho e fiquei mexendo no computador, ajustando alguns parafusos da viagem. Fiz amizade com ninguém...

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