domingo, 21 de outubro de 2012

Dia 13: 29 anos em Firenze

Oi pappa, oi mamma, tudo bem?

Décimo terceiro dia de Itália (27/02). Dia de meu aniversário. Se passei a entrada nos 28 aninhos em Lima, o primeiro dia de meus 29 começaram em Firenze e terminam em Roma. Um dia com as curvas de Davi, uma viagem de trem muito estranha e amigos romanos me desejando parabéns. Só do Brasil, não veio nada. Ninguém me ligou (fiquei esperando o dia todo o celular tocar...)



Mas bem, a vida segue. Acordei hoje disposto a aproveitar o aniversário. Como só encontraria meu CS de Roma no final do dia, acabei me enrolando para deixar Firenze. E aproveitei isso. Bem, na verdade, os 29 anos começarm um pouquinho antes, em uma festa na faculdade de agrárias da Universidade de Firenze, no meio de um monte de estudantes estranhos. Estes europeus são malucos. A festa estava bem boa, fomos com umas amigas do Vanni, fiquei dando indicações, em italiano, de como não deixar embassar o vidro do carro. Na festa, dancei bastante. Recebi de meu amigo fiorentino o primeiro parabéns da cidade. E a banda tocou a tal "Cacao meraviglao", hehehhe.

Os italianos tiram sarro de nosso "ão". Eles dizem que para imitar os brasileiros basta falar o "ão" no final das frases. Mas eles não conseguem falar “ão” daí sai "ao". Aí, lá na década de 70 ou 80, não lembro, fizeram uma música tirando sarro de como o português brasileiro soa para os italianos. É muito trash e brega, enfim, é de época. Mas engraçada. No youtube, dá para ver aqui. Recomendo.

La mamma `e il piu bel fiore nel giardino della vita

Bem, fomos dormir e acordei bem hoje de manhã. Ajeitei minhas coisas e fui bater perna. Queria fazer um aniversário bacana. Dia de sol, passei por uma loja e vi uma plaquinha que era a cara da mãe. Tirei a foto, depois te mostro [na verdade eu comprei a plaquinha para mãe, mas não falei isso no e-mail, a frase é “La mamma `e il piu bel fiore nel giardino della vita”]. Aí parei para tomar um cappuccino e um croissant de aniversário. E uma tortina para cantar parabéns. Fui até a Piazza de Santa Cruce, solzinho gostoso, cheio de turistas. Fiz ali o ritual do parabéns [o mesmo que fiz em Lima, um ano antes. Veja aqui]. Pronto, já tenho 29 anos. Bora ao que mais importa no dia, as curvas de Davi.



Fui cruzando a cidade deste a Santa Croce até a Galleria dell'Academmia. Já nem preciso de mapa, só olhar para cima buscando o Duomo, seguir em direção a ele, depois em direção ao Palácio dos Medici, me orientando pela igreja de San Lorenzo, viro uma a sinistra (esquerda) e outra a destra (direita). Pronto estou ali.

Última caminhada por Firenze no dia de meu aniversário 

Estava naquela mesma euforia de quando vi O Nascimento de Vênus, de Botticelli. Queria ver logo Davi. Mas fiquei desfrutando a expectativa. Tinha uma mostra de quadros de pintores menores do Trecento e do Quatrocento. Fiquei admirando, analisando, lendo a legenda. Então, uma sala de esculturas, a sala do Colosso. Com quatro obras inacabadas de Michelângelo, que ornariam o túmulo de um papa, não lembro qual. E, de repente, viro o pescoço e lá estava Davi. Tomei um baita susto. A estátua mais importante da história da humanidade, ali, e eu de bobeira.

Analisei um pouco mais as outras esculturas enquanto caminhava em direção ao Davi. Lindíssima, depois dela não é precivo ver qualquer outra escultura. A perfeição das veias na mão, a proporção dos músculos, a forma como ele se apóia sobre a perna direita. O olhar fixo para esquerda, de onde, na lenda grega, vem sempre o ataque. É o momento em que prepara a pedra na funda para atirar em Golias. O pé esquerdo, se prepara para o movimento, ele mudaria o peso do corpo no próximo lance. Na mão direita já tem a pedra escondida, na esquerda, segura a ponta da funda.

Davi, de Michelângelo, a escultura em sua quintessência

Michelângelo trabalhou mais de dois anos para fazer a célebre estátua. O mármore, cedido da Igreja de Santa Maria del Fiore, o Duomo fiorentino, tinha sido recusado por outros escultores, entre eles o mestre Da Vinci. Mas o maior escultor da história não deixou passar e criou sua obra prima. Em Roma, vou ver a Pietá e o Moisés, outras obras dele. Mas depois de Davi, nem precisaria.

Outra caminhada e as estátuas dei Uffici

Aí vi outras estátuas e outros quadros. Almocei um panino com carne de porco e vinho tinto em uma bodega pequena de dono simpático. Dei mais uma volta pela feira da piazza San Lorenzo, conversei com um brasileiro. Estava meio em clima de despedida. Atravesei a cidade novamente, passando mais uma vez pelo Duomo e seguindo em direção ao Rio Arno. A Piazza dei Signoria sempre apinhada, a Piazza dalla República, música ao vivo com uma moça de voz linda. Consegui chegar ao rio e pegar a água [minha coleção]. Tinha uns treinos de canoagem lá, mas eu não tinha tempo.

Corri arrumar minhas coisas. Me despediria de Firenze. Dei um abraço em Donna Rita, que me desejou boa viagem. Vanni me acompanhou até a estação. No trem, um pouco de leitura e dificuldade para dormir. Estava meio dormindo-acordado e as vezes olhava para uns americanos sentados ao lado e, meio sonâmbulo, falava umas coisas nada a ver. Eles riam e eu voltava dormir.

Em uma das paradas quase fiz das minhas. Sou um sobrevivente a mim mesmo, repito sempre. O trem ia demorar para sair, eu corri para comprar uma coisa para comer. Demorei para pagar e quando voltei a porta já estava fechada. Apertei um dispositivo de emergência e abri a porta à força. O trem começou a sair em seguida. Ufa.



Cheguei cansado a Roma. Lorenzo, meu novo CS, ia me receber na estação as 21h40. E lá estava ele, de carro com a namorada. Demos um giro pela cidade e fomos comer uma pizza em um lugar bem disputado. Pizza boa e barata. Fiquei conversando com os dois e mais um casal de amigos. "É seu aniversário", disse Lorenzo me cumprimentando. Brindamos, lembrei-me mais uma vez da data querida, que as vezes a gente exagera (é um dia como outro), mas que é bom ter como dia só nosso.

E foi assim que terminei meu dia, com pizza em Roma. Agora estou sentado no chão da casa de Lorenzo. Muito bacana a casa e o couch (sofá) é enorme - mais confortável que a cama lá do Vanni, hehehe. Amanhã (hoje) é domingo, tenho que saber quando o papa reza a missa para ir assistir. Vou dar uma pernada lá no Vaticano. E conto para vocês.

Beijos, vou dormir.
Murilo

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