domingo, 4 de março de 2012

Em Nasca, linhas eternas

Primeiro a baleia, bem pertinho da pista de pouso. Depois os trapézios e o astronauta. Então, a mais famosa: o macaco. Ao lado, o cachorro, depois o condor. Aí, mais duas famosas, a aranha e o colibri. O monomotor cruza a Panamericana Sur e avistamos alcatraz e o papagaio. De volta do lado de cá, a árvore e, por fim, as mãos. Foram 40 minutos de sobrevoo pelas Linhas de Nasca. Eu estava sem fôlego.

 O belíssimo Colibri com suas asas de 66 metros.

Sempre tive curiosidade de conhecer as famosas linhas localizadas no sul do Peru, no deserto altiplano de Nasca que se estende por 80 km entre as cidades de Nasca e Palpa, em uma área total de 500 km². Olhava com ressalvas as fotos deste conjunto de geóglifos criado pelo povo nasca entre os anos 400 e 650 d.C. Mudei de ideia ao vê-las “de perto”.

O macaco, uma das figuras mais famosas.

As linhas são gigantes figuras que chegam a atingir 270 metros de comprimento. Algumas se resumem a meros traços, outras são bem mais complexas, como o colibri de 66 metros de asas. Elas foram desenhadas removendo as pedras avermelhadas e cavando trincheiras de seis centímetros de profundidade. Foram utilizadas, possivelmente, ferramentas bastante simples. Assim, o chão esbranquiçado ficava descoberto e, pelo contraste, formavam-se os desenhos.

Pelas características do deserto – clima seco, sem vento e isolado, as linhas estão preservadas até hoje. Elas foram descobertas nos anos 30, quando começaram a viajar de avião sobre a área. Os especialistas divergem sobre suas funções, mas as teorias passam por orientação astrológica, marcação do fluxo de água e, claro, o significado religioso.

Em Nasca, sem dinheiro

No ônibus, um pouco de cultura inca para driblar a programação da TV.

Chegara a Nasca cedo, vindo de Cusco. De ônibus, ziguezagueamos novamente os Andes em direção ao mar. A previsão era de 14h de busão, com chegada às 8h30. Passavam das 10h30 e ainda estava na estrada por causa de obras na pista.

Parada na estrada. Nós voltamos aos Andes.

Não reclamei, o ônibus leito era ótimo, o melhor da viagem. Transformava em carroças os coletivos bolivianos. Só o que incomodava era a programação televisiva: aquelas comédias da TV canadense com pegadinhas e risadas. Ignorava. Pela janela, via a região tornar-se desértica. A exuberância dos Andes ficava mais uma vez para trás.

Em Nasca, sem soles. A cidade respira as linhas.

Nasca respira as linhas. Com poucos soles e muitos pesos chilenos no bolso, tive um tempo para bater perna pela cidade. Ainda estava meio jururu por causa da despedida de Marco, no dia anterior em Cusco - depois de ter deixado meu amigo, fui mais uma vez ao centro de artesanato Qoricancha e vi os manifestantes queimando pneus na rua. E passei em uma construção para ver a famosa pedra de 12 ângulos. Só isso.

 A pedra de 12 ângulos, última imagem de Cusco.

Mas em Nasca era hora do sobrevoo. Estava no aeroporto Maria Reiche, na municipalidade distrital de Vista Alegre. O piloto dissera que eu seria o copiloto, só pra me animar. No banco de trás, um casal europeu. O monomotor pegou velocidade, voamos.

  Antes do sobrevoo. Eu seria o "copiloto".

Meus parceiros de viagem: 40 minutos de voo.

Pelo sistema de som, ouvia o piloto cantar, em espanhol e inglês, os nomes das linhas. Eu estava empolgado. Não sabia se tirava fotos, filmava ou apenas curtia o momento. Fiz os três. E me senti realizado por conhecer mais um patrimônio da humanidade. Missão cumprida.

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