domingo, 10 de maio de 2009

Um dia repleto de lagunas

A batida tradicional de Kaja Marka dava o tom da viagem. “A música nunca para”, comentei algumas vezes. Kaja Marka era apenas um dos vários cantores bolivianos que formariam a trilha sonora de Jimi, nosso motorista. Estávamos em solo boliviano. Do lado de fora da janela, montanhas, vulcões e deserto compunham a paisagem. Dentro, Kaja Marka entoava mais um refrão.


A frota de 4X4 seguia por solo boliviano. Chão pela frente




Chegamos ao país dentro de um 4X4. Quando cruzamos a fronteira, Jimi anunciou “Bem-vindos à Bolívia”. Mas já estávamos no clima com as primeiras batidas de Kaja Marka. No carro, os suíços Benjamin, Ramon e Daniel, a norte-americana Shannon e o catarinense Daniel. Queríamos conhecer um salar.

A hospitalidade dos bolivianos até na fronteira

O tour explorava a Reserva de Fauna Andina Eduardo Avaroa, no sul da Bolívia. Três dias dentro de um carro, dormindo em alojamento e boquiabertos diante de paisagens magníficas. Após lagoas e muitas formações rochosas, a viagem terminaria no Salar de Uyuni. Mas uma coisa por vez.

Shannon espelhada. Lagoas pela frente

Voltamos ao carro, onde deixamos as musicas de Jimi tomar conta. Eram todas no mesmo ritmo, as vezes com um tom meio indiano. E não tinha fim. As inibições de idiomas e nacionalidade aos poucos foram acabando nas conversas com os amigos mochileiros. Nos divertíamos com as variações de xingamentos nas várias línguas. O time estava formado.

Faltou o Daniel. Grupo de estrangeiros na Bolívia, parece a ONU

Uma série de lagunas nos esperaria pela frente. De todas as tonalidades, começando pela branca, depois pela verde, aos pés do vulcão Licancabur. Mesmo na Bolívia ele ainda era onipresente.

Licancabur, sempre ele. Última olhada

As lagunas se seguiram, Honda, Hedionda, entre outras. Paisagem de espelhos d’água, vulcões em atividade e flamingos (são quatro espécies, uma delas só existe ali). Também passamos por fumegadores, uma espécie de gêiser que só solta fumaça. E ainda pelo banho quente em águas termais. Pouca coisa pelo que nos esperava adiante.

Laguna Colorada

Após tantas lagunas, paramos diante da mais bela de todas, e ali ficamos. A Laguna Colorada não é era só um espaço para deslumbramento e contemplação, mas também o pouco de nosso primeiro dia. Estávamos cansados e famintos, mas precisávamos conferir a lagoa.

A mais bela das lagunas. Fauna e paisagens, tudo num Monet perfeito.

Uma das maravilhas naturais da Bolívia, a Laguna Colorada concorre no concurso The News Seven Wonders, de nome autoexplicativo. O rubro de seu espelho d’água vem dos organismos presentes no lago. Compõem também a paisagem, as dezenas de flamingos, que se equilibram em uma única perna, e a reserva de bórax, formando o fundo branco. Um Monet perfeito.

Não se iluda com o calor do acampamento. Eu confundi e senti na pele o vento gelado a mais de 4 mil metros de altitude

No alojamento o calor de café, chá de coca e sopas. Mas nada de banho em um lugar onde até a descarga da privada era feita a baldadas. A comida era bem boa... para um gato. Brincadeira de nosso time, incentivada por um presunto de latinha. O legal mesmo era a inteiração com os gringos de todas as partes, inclusive com uma dupla de franceses jogando o estranho jogo de cartas 'tin'. Ignoro as regras.



Cama quentinha e apropriada para o vento cortante a da noite a 4.400 metros de altura

E se de dia o quadro da Laguna, com sua fauna local, chamava atenção, a noite a vista obrigatória é o céu. A propósito, o céu mais lindo que já vi em minha vida. Junte altitude, ausência total de nuvens e poucas luzes, chacoalhe tudo e sirva em um único prato: um iluminoso e belíssimo céu estrelado. São tantas estrelas, que o céu parece claro.

O céu mais belo que, claro, não encaixaria em uma foto

O céu voltaria a chamar atenção, mas isso quando o sol nascesse de novo, no outro dia. Dia de continuar nossa aventura por solo boliviano.

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