terça-feira, 19 de maio de 2009

No carro de Jimi, a batida para

O sal começa a engrossar nos pneus do jipe de Jimi. O carro para. Não pelo sal, mas por um pneu furado. Estávamos no meio do deserto, na beira do salar de Uyuni. Outro carro vem nos ajuda, mas também tem problemas. Um pneu, um sistema elétrico. E uma criança de quatro meses no carro vizinho.

Pela manhã, lhama e gringo. Tudo misturado na Bolívia

Levantamos cedo naquele dia para seguir viagem. O sol tinha um amarelo gostoso em sua inclinação mais fotogênica. Fazia frio, tomamos um bom café e chá de coca e encaramos o ventinho da altitude.



Pela manhã tínhamos companhia. As aves e ovelhas que brigavam por comida, e lhamas que vinha buscar direto no lixeiro. Domesticadas, elas não davam muita bola para aquele monte de gringos e seus sotaques.

Lhamas e aves brigam pelo enquadramento. A ave ganhou

Nos preparamos para sair. Dei uma última olhadela para Laguna Colorada, em seu ângulo desfavorável. Ajudamos o Jimi a carregar o jipe e seguimos viagem. O som boliviano voltou a tomar conta do jipe de Jimi. Conversava com os amigos estrangeiros. Aguardávamos surpresas.



Uma árvore de pedra e alguns metidos a engraçadinhos

E vieram em forma de árvore. A Árbol de Piedra, parecida com as formações esculpidas pelo vento de Vila Velha, no Paraná. Também fantástica. Subimos aqui, ali, acolá e exploramos tudo. Com máquinas nas mãos e ideias na cabeça – vide foto colhendo uma maçã da árvore. Coisa boba.

Caminhada pelas últimas lagoas

Na sequência da viagem voltaram desfilar as lagunas altiplânicas. Cada uma com sua particularidade, Honda, Hediona e Cañepa. Não podia mais ver lagoas e seus flamingos dando uma de saci. Mas a vista é linda.

Parada para almoço com pico nevado ao fundo

No caminho também nos seguiam picos nevados, em cumes de 5.200 metros de altitude, e vulcões em atividade. Pequenos paradoxos bolivianos. O carro deu seu primeiro aviso – Jimi pediu para seguirmos um trecho complicado a pé, para não forçar o jipe. Andamos um pouco e ali paramos. Hora do almoço.

Coca-Cola e almoço gelado. Comida feita pelas não menos frias cholas bolivianas

Comida ao céu aberto, gelada. Preparada por uma das tias bolivianas de cara fechada. Elas nuca riem. Mas como o paladar é inversamente proporcional à fome, a comida estava ótima. O local foi bom para relaxar e ouvir o silencio. Ou fazer o montinho de pedra como reza a tradição local.

Montinho. Faça um desejo e aguarde, quando o monte cair, realiza

Próxima parada...

Então seguimos viagem e o sal engrossou igual em espeto de chão gaúcho. De repente, o jipe para. Pneu. Nosso herói faz o seu serviço, enquanto um conterrâneo também para e presta auxílio. Mas na hora de dar a partida é o carro do outro que não responde.

Jimi frustrado, um pneu furado e nós parados

Notamos que por alguns momentos a música de Jimi parara de tocar. “Parou?!”, vibramos ainda incrédulos. Engano, poucos minutos depois e a batida bolviana voltou a dominar o ambiente e nossas mentes.

Dois times se juntam. Tempo parado também serve para fazer amigos

Saímos todos dos carros e nos encontramos com o outro grupo. Muitos gringos no meio do nada. Ao fundo, pequenos furacões davam feições de deserto ao que de fato a região era. Jimi e o conterrâneo ajeitavam a parte elétrica do carro do outro e uma mãe boliviana ninava o pequeno de quatro meses no colo.

San José del Deserto

Tivemos que parar na pequena San José, uma cidadezinha no meio do deserto. Compramos alguns chocolates, tirei algumas fotos dos meninos que se lambuzavam com o salgadinho laranjado. No carro, meus amigos faziam o tempo passar a base de cantoria. Mas o tempo havia passado demais.

Meninos, seus rostos rosados e salgadinhos laranjados




Tanto que no final das contas ficamos em San José. Nada de passar a noite em hotel de sal, uma pena. Mas tomamos um banho quente (que depois foi cobrado por um cara da hospedagem , também como manda a tradição local). Tomamos sopa, comemos macarrão, nos esbaldamos na bolacha e no café. E descansamos.

Fim de dia e redemoinhos. Lugar para passar a noite

Não sem antes ver o sol se pôr. Aquele mesmo das lhamas e ovelhas, no mesmo tom amarelado. Tomamos vinho sob o vento frio. Daniel e eu conhecemos um cemitério de múmias chalpas – pelo tempo super seco, a região é um oásis para os arqueólogos, explicou ele. Já a guia local explicou nada.

A múmia preservada pelo clima seco do deserto

“Essa tribo nunca via o sol, só a noite. Então uma vez eles saíram no sol e morreram e estão aí até hoje”, ou algo do tipo. Eu não entendi nada. O Daniel menos.

Mas já era noite, voltamos ao alojamento tateando no escuro. Tínhamos que descansar. No outro dia veríamos um salar.

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