Tão rápido quanto as hélices dos moinhos que superlotam o estreito de Øresund foi nossa passagem por Copenhague. Nosso objetivo na capital dinamarquesa era participar de um challenge, uma espécie de desafio científico com propostas de comunicação sobre as mudanças climáticas para diferentes públicos. Muito interessante. Separados em grupo, gente das mais variadas nacionalidades unindo cabeças em torno de um objetivo comum.
Saímos de Malmö após a programação da manhã e eu, que estava escalado em um dos primeiros ônibus, acabei perdendo meu transporte. “Só você mesmo”, debochou o Juttel. Problema dele, teve que me agüentar no mesmo ônibus. Ele e a Rossella, nossa amiga cinegrafista da Universidade de Turin.
Atravessamos os quase oito quilômetros da ponte do Øresund que liga as portuárias Malmö e Copenhague. A ponte é o símbolo da conferência "Bridges to the future" e representa a união dos povos suecos e dinamarqueses. Maior ponte rodoferroviária da Europa, ela passa sobre o estreito de Øresund (nome dinamarquês, em sueco é Öresund) que liga o Mar Báltico a outro estreito, o de Kattegart, ao norte, em direção ao Mar do Norte.
A vista, lógico, é belíssima. Ao fundo dezenas de moinhos de ventos aproveitam a brisa local. No final, a ponte se transforma em um inusitado túnel que nos leva até Copenhague.
Foi possível ver um pouco da arquitetura de Copenhague, bela como a das outras cidades européias, mas ainda assim peculiar. Tijolinho à vista em muitos prédios; me disseram que ela tem a arquitetura semelhante à da Irlanda e da Inglaterra. Na viagem de volta, entretanto, um britânico afirmou que Londres é muito mais bonita.
Desembarcamos no Copenhagen Bussines School onde ocorreu o Challenge. Fomos recebidos por autoridades, dentre elas a ministra de Clima e Energia da Dinamarca, Connie Hedegaar. Discursos iniciais, apresentações, mas vamos pôr a mão na massa. Cada um encontrou o seu grupo e fomos discutir comunicação científica.
O meu time tratou sobre a mídia alternativa. Uma belga, um alemão, uma japonesa, uma sueca e um brasileiro procurando modos alternativos de se divulgar a preocupante questão das mudanças climáticas. Foi muito proveitoso, todos se respeitando e aprendendo sobre como a ciência é divulgada em cada país. Sugeri que fizéssemos uma sugestão local, regional e global. Mas foi o alemão, eficiência teutônica, que deu o primeiro pitaco para encerrarmos o trabalho.
Apresentamos algumas das sugestões na assembléia e discutimos. Foi bastante proveitoso e intensamente enriquecedor. Saímos de lá com a certeza de que há uma comunidade de divulgadores da ciência em muitos países e que o tema é encarado com seriedade em outras partes do globo.
Why Copenhague?
No Museu Nacional de Copenhague, além da comilança, teve um interessante teatro em que fazíamos o julgamento de dois cientistas. Quem dizia a verdade? Muito legal, embora o Mr. Pal Asija tenha chamado a atenção novamente ao interromper a encenação e sentar-se nas escadas. Conhecemos o museu, as coleções histórica, etnográfica, cultural. Completo. Fim da viagem, ônibus pronto para sair e nós naquela dúvida. Acabamos deixando o transporte ir sem nós. Ficaríamos em Copenhague, só não sabíamos onde.
Mais uma vez nosso pouso foi resolvido por um acaso. Andamos pelo centro da cidade com as italianas Rossella e Frederica. Vinha batendo papo em italiano com a Rossella, desistindo de treinar o inglês, mas me dando muito bem na língua latina. O Enio e o Juttel treinavam a Frederica – ela falava a todo instante: “Eu posso falar português. Eu moro em São Paulo, no Bexiga”. Mas sempre errava o nome do tradicional "bairro" paulistano, tomado por imigrantes italianos.
Conhecemos uma praça, umas construções históricas, alguns canais, sem saber bem o que é o que. Mas precisávamos de um lugar para ficar e foi a Frederica que resolveu: ficamos em um quarto ao lado do dela, em um predinho perto do centro. A Rossella dormiu com Frederica; o Juttel e eu dormimos no outro quarto.
Outro dia cedinho, nós sem coroas dinamarquesas no bolso emprestamos algumas moedas das meninas e, os quatro, pegamos o trem para cruzar novamente o Øresund em direção à Suécia. Era dia 27, dia importante. O nosso dia na conferência!
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